Já faz um tempo, a fama do Brasil ser um dos melhores do mundo na propaganda impressa e a Argentina na categoria filme. Veja bem, isso não quer dizer que nós somos fracos na categoria filme, até porque, nesse ano fomos GP em Cannes (grand prix: prêmio máximo da categoria), portanto, o melhor do mundo nesta categoria com o belíssimo filme 100, da F/Nazca para a Leica.
Isso quer dizer que o Brasil está bombando em filme? Teoricamente, deveria. Mas, não é o que vemos quando ligamos a televisão. Quer saber o porquê? Na minha humilde opinião, acredito que tenha uma boa dose do politicamente correto podando a criatividade nacional. Alguns vão dizer que a propaganda está passando dos limites e me excomungar. Calma, caro colega, deixa eu explicar!
Existe um grande medo, uma nuvem negra, habitando as baias do pessoal do marketing. Ainda mais diante de uma crise. Aí, é que eles buscam fórmulas prontas. Os poucos que fazem diferente tendem a ter mais destaque. Mas, não é só isso. Hoje em dia, as redes sociais deram uma amplificada na voz do consumidor. Coloca aí todo tipo de gente: fanáticos religiosos, filósofos de bares, pseudos profetas, turma da bagunça e, por aí vai. Limites são importantes. Mas o dna do brasileiro sempre foi o de saber rir de si mesmo. Muita hipocrisia rolando e dedos que julgam. Já dizia o sábio que, quem tenta agradar a todo mundo, acaba não agradando ninguém. E, digo mais, criar um posicionamento forte ou, um conceito polêmico, é dar a cara a tapa! Poucas marcas estão dispostas a encararem essa exposição pública. Está aí a propaganda do O Boticário que incluiu casais do mesmo sexo, apenas, se abraçando.
O politicamente correto está, na verdade, tirando a capacidade de cada indivíduo criar seu próprio julgamento. Podemos criar uma campanha maravilhosa para o pessoal do sertanejo e, provavelmente, será odiada pelo pessoal do rock. Isso é posicionamento. A marca foi em direção ao seu target. Melhor se conectar com um grupo do que passar despercebido por todos. O pessoal que liga nos 0800-consumidores-lesados por aí, andam tão chatos que, se depender deles, toda mulher deveria sair com uma camiseta escrita: estou maquiada, não acordo bonita assim todo dia. E o rapazes sarados de academias então? Não nasci forte, apenas estou tomando whey e puxando ferro todo dia, se eu parar um tempo, cai tudo. Vamos parar enquanto é tempo. Vamos deixar de ser tão malas. O hambúrguer daquela rede de fast food não virá igual ao da foto. Mas, se você prefere o da foto feia, vai comer o x-salada do boteco da esquina. As vezes vem melhor que a foto até! E, com certeza, bem mais barato.
Para quem ainda está lendo e não quer jogar uma pedra na minha cabeça, vou mostrar 4 filmes argentinos que me deixam com saudades dos tempos que a nossa televisão podia ser mais despojada, mais alegre e, porque não, mais sacana.
O primeiro é uma das minhas campanhas prediletas. Pais de cuecas são filmes para vender ar condicionado. Quem nunca teve a desagradável surpresa do pai desfilando de cueca pela casa num dia de muito calor?
O segundo é daqueles que, se fosse por aqui, rolaria comoção nacional, os criativos enviados para o fuzilamento. O conceito da campanha é que os amigos são psicólogos que apenas não tem o título. Para a cerveja Andes, ressaltando o valor do papo de bar na vida dos homens. #absurdo #machista #deixadeserchato
A próxima é para o H2O, aquela água com saborzinho. O filme mostra a menina apresentando o novo namorado para a família e suas tranças de admiração vão surgindo em cada pessoa conquistada. Passa o conceito da marca ser amada pela família toda.
Por fim, novamente para a cerveja Andes, um comercial que anuncia o sensor de temperatura do rótulo que, muda a cor, avisando o ponto certo para degustar a bebida. Porém, mostrado de uma maneira bem divertida.
Espero que esses exemplo tenham contagiado você também. Meu recado para os reclamões é que o maior medo dos anunciantes sempre será o produto ignorado nas prateleiras ou o telefone que para de tocar. Assim, ao invés de empobrecer a propaganda que não agradou você, apenas mude o canal e não consuma o produto. Simples assim.